Desvairos #10
Esta semana, exactamente no dia 26, passou um ano desde que eu e o meu Namorado começámos a viver juntos.
Já passou um ano. Estive 28 anos a morar com os meus Pais e quando eu e ele decidimos começar a pensar a sério no assunto, foi algo pelo qual ansiava. Sentia-me preparada para este passo. Toda a azáfama da mudança, de encaixotar, de descartar, de organizar e de encontrar um novo lar para todas as minhas coisas preenchiam-me a cabeça: era a minha praia - arrumar e organizar.
Sempre que andávamos nas compras, era entusiamante sentir que finalmente estávamos a fazer as primeiras compras para a nossa casa.
Nessa noite do dia 26, em 2017, entrei na minha nova casa e caí em mim. Chorei desconsoladamente, sabendo que "para trás" estava o meu quarto cheio de pormenores da Torre Eiffel, os meus gatos, a minha rotina de 28 anos. Os meus Pais. Chorei e continuei a chorar durante meses e, passado um ano, enquanto escrevo isto, as lágrimas continuam a cair-me.
Tantas vezes me pergunto porque não posso eu ser como as outras pessoas e viver tudo isto mais intensamente? Porque não pude fazer daquela primeira noite tão inesquecível, como seria de esperar?
As lágrimas não são de infelicidade, são de saudade. E há dias em que a saudade bate mesmo forte, apesar de poder ver os meus Pais quase todos os dias. Mas há coisas que não voltam mais: o cheirinho a torradas ao sábado de manhã, o meu pijama embrulhado no saco de água quente sempre que eu chegava tarde a casa, o beijinho de bons dias, o aconchego dos meus gatos, "mãe, o que é o jantar?", as tardes no sótão a criar artesanato, o tempo que tinha para escrever em todos os meus blogs, a companhia do meu pai, os abraços constantes, ficar em casa nos feriados perto da minha mãe, trabalhar na mesa da cozinha até tarde... As coisas mais pequenas fazem tanta falta nas horas de maior saudade.
Não me falta nada em casa. Felizmente não nos falta trabalho e temos tudo o que precisamos para ter uma vida confortável. Não sou infeliz. Mas sei que bem no fundo ainda não me soube adaptar a tudo isto e sei reconhecer que nos momentos de maior desiquilíbrio é quando me foco mais no trabalho (ou nos trabalhos!!), em arrumar a casa e em sentir que posso ter tudo perfeito à minha volta.
Bem sei que todas as pessoas são diferentes, mas alguém aí desse lado que se possa identificar mesmo que seja um bocadinho com tudo isto? É verdade que uma mudança será sempre uma mudança, mas quanto tempo precisamos para nos adaptar?
(Este Texto está em desacordo ortográfico)